A cena se repete em Bauru: uniformes escolares prometidos no início do ano letivo simplesmente não chegam. Estamos em setembro, faltando menos de três meses para o fim das aulas, e os cerca de 24 mil alunos da rede municipal seguem sem o kit básico de roupas escolares – que inclui camisas, calças, jaquetas, tênis e até meias.
A justificativa da Prefeitura é conhecida: problemas na licitação. Mas, enquanto os entraves burocráticos se arrastam, são as famílias que amargam o descaso.
Mara Lúcia, mãe de Lara Beatriz, de 5 anos, não vê uniformes novos há dois anos. “É muito difícil, porque não tenho condições de comprar roupas para ela usar na creche. Ela só veste peças usadas. Como é intolerante à lactose, preciso mandar roupas extras na mochila. Nessas condições, o uniforme faz muita falta”, relata, indignada.
Sem saída, muitas mães recorrem ao comércio para suprir a ausência da Prefeitura. É o caso de Alexsandra Dias, mãe de um menino de 2 anos e meio. “Seria muito melhor se a Prefeitura entregasse. Às vezes, uma roupa suja já faz falta para o outro dia. Além disso, o que deveria ser roupa de passeio acaba se desgastando”, critica.
Natalia Fragnan enfrenta situação parecida: sua filha de 6 anos ainda usa peças do kit de 2024, já apertadas. “Ela cresceu, mas é o que temos. Precisamos nos virar com o que sobra”, desabafa.
O atraso, aliás, virou rotina. Em 2024, a entrega também atrasou e foi alvo do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), que considerou irregular o contrato com a empresa fornecedora. Mais grave: a compra feita no ano passado custou até 96% a mais do que em 2023, com a mesma empresa.
A cronologia mostra desorganização: só no fim do primeiro semestre de 2025, às vésperas das férias, a Secretaria de Educação levantou as numerações para aquisição. Em nota, a Prefeitura admite que o processo precisou ser reiniciado em maio, alegando entraves burocráticos.
Agora, promete uma entrega emergencial em setembro e já anuncia que iniciou a compra dos uniformes de 2026. Mas, diante do histórico de atrasos e contratos questionados, pais e mães seguem desconfiados – e cansados de esperar.