Um estudo recente publicado na revista Science trouxe à tona uma preocupação urgente: os aterros sanitários, longe de serem apenas depósitos de resíduos domésticos, estão se revelando como uma fonte significativa e subestimada de gases de efeito estufa. O metano, um dos principais gases causadores do aquecimento global, está sendo emitido em quantidades quase três vezes maiores do que o relatado às autoridades nos Estados Unidos.
A pesquisa, que mediu as emissões de metano em cerca de 20% dos grandes aterros sanitários em operação nos EUA, revelou dados alarmantes. Riley Duren, fundador da Carbon Mapper, uma parceria público-privada envolvida no estudo, destaca que essas descobertas lançam luz sobre lacunas significativas em nosso entendimento das verdadeiras emissões provenientes desses locais.
Embora o metano seja menos duradouro na atmosfera em comparação com o dióxido de carbono, sua capacidade de reter calor é mais de 80 vezes maior ao longo de um período de 20 anos. Isso o torna uma preocupação crucial no contexto das mudanças climáticas. Surpreendentemente, os aterros sanitários foram subestimados como uma fonte desse gás potente, com estimativas anteriores baseadas em modelagem computacional, em vez de medições diretas.
O estudo utilizou uma tecnologia avançada de sobrevoos de aviões equipados com espectrômetros de imagem para detectar concentrações de metano no ar sobre os aterros sanitários. Os resultados revelaram a presença de pontos quentes de emissão em mais da metade dos aterros estudados, sugerindo vazamentos significativos de metano causados por camadas de lixo em decomposição.
Daniel H. Cusworth, cientista climático envolvido no estudo, descreveu a situação em alguns aterros como uma "lasanha de lixo", indicando que décadas de resíduos acumulados podem estar contribuindo para os vazamentos de gases.
Embora muitos aterros estejam equipados com sistemas para coletar e controlar as emissões de metano, como poços e tubos especializados, os vazamentos ainda são uma preocupação. Identificar e corrigir esses vazamentos não só ajuda a compreender melhor o problema, mas também pode auxiliar os operadores dos aterros a adotarem medidas para reduzir as emissões, como a implementação de práticas de compostagem de resíduos orgânicos.
Além dos Estados Unidos, a preocupação com os aterros sanitários se estende globalmente. Em países onde esses locais não são estritamente regulamentados, a situação pode ser ainda mais desafiadora. Levantamentos anteriores sugerem que os aterros sanitários contribuem significativamente para as emissões globais de metano, representando quase 20% das emissões ligadas às atividades humanas.
Diante desse panorama, iniciativas estão surgindo para monitorar as emissões de metano de forma mais abrangente. A Carbon Mapper, em parceria com instituições como a NASA e a Universidade do Arizona, planeja lançar satélites dedicados ao rastreamento de metano ainda este ano. Esses esforços, juntamente com o lançamento recente do MethaneSat pela Environmental Defense Fund, representam uma esperança na luta contra as emissões de gases de efeito estufa provenientes dos aterros sanitários.
Em suma, a questão dos aterros sanitários está se destacando como um desafio ambiental significativo. A necessidade de compreender e mitigar suas emissões de metano é urgente, não apenas para reduzir o impacto das mudanças climáticas, mas também para proteger a saúde e o bem-estar das comunidades locais e do planeta como um todo.
Marcos Xavier
Jornalista do Povo
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