O prefeito Anderson Prado de Lima (PSD) tem feito questão de exibir, com orgulho e pompa, os troféus que uma rede de TV entregou à cidade, proclamando-a a melhor cidade brasileira para se viver. Mas será que esses troféus refletem a verdadeira realidade dos lençoenses? Ou estamos diante de mais um caso clássico de marketing vazio e autoelogio?
Nas redes sociais, Prado exibe os prêmios como se fossem a prova definitiva de sua gestão exemplar. Porém, basta uma rápida olhada no cotidiano dos cidadãos de Lençóis Paulista para perceber um contraste gritante. Enquanto o prefeito desfila com seus troféus, muitas mães e pais lutam para conseguir vagas em creches municipais para seus filhos. Apesar do discurso do prefeito de que teria zerado a fila de espera nas creches, o site da prefeitura, nesta sexta-feira, 5 de julho, mostra que 96 crianças ainda aguardam por uma vaga.
E a situação das creches vai além da falta de vagas. Muitas estão com suas infraestruturas comprometidas, sem o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), e em condições de abandono. Banheiros sem papel higiênico, brinquedos quebrados nas áreas internas e mato crescendo nas áreas de lazer são a realidade cotidiana. É um retrato desolador do que deveria ser um ambiente seguro e acolhedor para as crianças.
A metodologia desses prêmios é questionável. Parece mais um daqueles troféus que empresas ganham ao adquirir pacotes publicitários, sem qualquer relevância real. Comparar isso com o IPS Brasil (Índice de Progresso Social), que avalia a qualidade de vida de forma multidimensional, e foi divulgado no mês passado, é quase uma piada. Segundo o IPS, Lençóis Paulista está longe de ser a melhor cidade do Brasil para se viver, nem sequer figurando entre as 20 primeiras. A cidade teve uma nota de 69,64 de 100, com avaliações fracas em direitos individuais, instalações elétricas adequadas e saúde, especialmente no que diz respeito à obesidade.
Outro índice que joga água fria na festa do prefeito é o Índice de Efetividade da Gestão Municipal (IEG-M) do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCESP), também divulgado recentemente. Desde o início da gestão de Prado, em 2017, a queda na avaliação de vários setores é alarmante. Na educação, por exemplo, a nota caiu de B+ para C. Na saúde, o declínio foi de B para C+. É um retrato desolador de uma administração que promete muito, mas entrega pouco.
Talvez a verdade seja inconveniente para as aspirações políticas do prefeito, que sonha em se tornar deputado nas eleições de 2026. Para isso, é melhor mostrar um quadro cor-de-rosa do que enfrentar a dura realidade. No entanto, a verdade tem um jeito incômodo de se fazer presente. E essa verdade é sentida na pele pelo cidadão lençoense, que precisa buscar atendimento médico em outros municípios, após longas esperas, transformando o orgulho em humildade.
O castelo de areia, erguido com mentiras e marketing enganoso, desmorona quando os serviços públicos falham. Aí, resta ao cidadão recorrer a vereadores para furar filas ou acelerar procedimentos, utilizando o infame “jeitinho brasileiro”. E, nesse momento, a verdade, antes oculta sob uma camada de propaganda, emerge com toda sua força.
Aceita que dói menos, prefeito. Porque, no fim das contas, os troféus e prêmios comprados não mudam a realidade. E essa realidade, sentida no dia a dia dos lençoenses, é a verdadeira medida da sua gestão.
Marcos Xavier
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